Asgard - A saga dos nove reinos

Asgard - A saga dos nove reinos

2011-03-18 19:10


Natasha a vampira...

Natasha a vampira...
à espreita, esperando os desavisados...

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Sacrifício

Sacrifício

Regina Castro and Vinicius S. Reidryk



Aquelas ruas não eram nada seguras, nas vielas prostitutas se proliferavam desmedidamente, o fio da navalha corria solto, tanto com marginais quanto com crimes sem solução e esses continuavam no oculto, engavetados em estantes empoeiradas das delegacias de polícia. Gritos não eram raros de serem escutados, às vezes as próprias prostitutas amanheciam inertes, jogadas na sarjeta, elas que já conheciam o local e tinham cada esquina por moradia... A morte buscava sem distinção de raça ou credo, mas logo outra assumia o lugar, o lucro não podia parar.
A morte encoberta por um traje elegante e palavras finas e mais uma era arrastada de boa vontade ficando lá, sem marcas nem manchas, pareciam dormir e logo o sujeito dobrava a esquina, o trabalho estava feito, o sorriso cínico dava o ar do dever cumprido, dobrava em algum ponto da rua sumindo na penumbra.
Os legistas apareciam, catavam restos do que um dia foi alguém e mais um caso ficava sem solução, isso já estava deixando os detetives loucos, esse caso já estava indo longe demais, os policiais pareciam baratas em cima da podridão que a cidade estava se tornando, correndo para todos os lados, e de longe alguém divertidamente, observava.
Na igreja havia apenas um padre, pois os outros desistiram de continuar a dar a palavra de Deus num lugar tão obscuro, maltratado. Segundo eles nada podia ser feito, então não queriam pôr riscos as suas vidas mesmo acreditando que um dia isso finalmente chegaria ao fim.
João era um padre calmo e preocupado, costumava descobrir sozinho o que estava acontecendo na cidade em que foi criado. Ficava diante do altar rezando, entrando em contato com Deus e sendo correspondido.

- “Ele pagará por seus atos!” – veio uma voz audaciosa em sua mente.

Poucas pessoas freqüentavam a igreja, muitas haviam desacreditado a palavra de Deus por terem perdido membros da família. - E agora o que um padre poderia fazer numa cidade praticamente fantasma? – pensou.
Nada que uma pesquisa não ajudasse. Voltou para o quarto e a sua investigação sobre as mortes e quem estava por trás disso foi iniciada. O padre gostaria que a cidade voltasse a ser como em tempos atrás, tempos de infância...
Foram sete vítimas até agora, incluindo um padre.
Tudo transcorria sem regras, uma terra sem leis, somente um padre e todo um corpo policial e o assassino parecia brincar de bandido e mocinho como em tempos de criança... Só que desta vez, real...
A igreja agora muda só recebia as preces do morador que insistia em não abandoná-la, o padre João, ele ainda tinha fé que tudo mudaria... Mas suas investigações não estavam surtindo efeito... Alguém ainda brincava de Deus nas ruas sombrias, brincava de Deus ou demônio, sentia prazer pelo que fazia, e pelo modo dele pensar talvez, fazia com a perfeição de um artista.
Pesquisava em sites e lia o jornal todos os dias. Continuava pensando quando e onde seria que este assassino voltaria a atacar.
O padre tinha o pensamento firme, iria encontrar o culpado e esse herege pagaria com certeza por seus atos... O suor descendo por suas têmporas e as lágrimas encharcando sua batina, as mãos juntas e as orações ainda mais fortes em seu coração quase cansado...
E um sussurro escapou por entre seus lábios...

- Deus, ajude-nos, por favor!

Ao anoitecer, percebeu que não era mais tempo de ficar em casa, refugiado num lugar que pensava todos os dias estar a salvo.
Os ataques aconteciam somente à noite, sabia que se quisesse alguma pista, teria de sair dali e enfrentar o medo da escuridão.
Com roupas normais percorreu ruas, entrando e saindo de vielas cada vez mais estreitas, o odor era algo que jamais esqueceria, parecia esgoto a céu aberto e aquelas mulheres, oferecendo seus corpos a quem passasse, algumas delas com aspecto doentio... Padre João perguntou se tinham visto algo estranho por aqueles dias, mas ninguém parecia se importar... – A que ponto a raça humana chegou, Senhor meu Deus... – pensava o padre a todo o momento.
Ao longe avistou uma sombra, alguém se aproximava... O indivíduo chegou perto de uma garota, esta sorrindo abriu o decote ainda mais, o padre ficou olhando ao longe, o homem chegou mais perto da garota e abraçou-a esta começou a beijá-lo, o estranho estava de costas e o padre nada via dele, nenhuma parte sequer de pele, com cuidado João foi andando, o estranho levou a mulher para o beco ao lado, o padre congelou, algo naquele ser deixava-o preocupado, não demorou muito tempo e um vulto saiu do beco rapidamente, ao ficar frente a frente com o padre, parou e ficou a fitá-lo, padre João paralisado... Não conseguia mover um centímetro, estava preocupado com a mulher que não havia saído, mas aquele olhar congelou sua espinha, um olhar de pura crueldade, um olhar surreal, ele nunca tinha visto nada igual em toda sua vida e olha que ele já tinha muita experiência no ministério, já tinha passado por muita coisa percorrendo os caminhos de Deus, mas aquilo era uma provação que nunca tivera antes, o ser entortou a cabeça de lado olhando-o fixamente, seus olhos brilhavam na escuridão projetada dos prédios atrás de si, antes dele sair João jurou ter visto um sorriso, algo monstruoso... Um sorriso que fez seu coração pular, logo depois o estranho saiu deixando o padre ainda inerte olhando o nada, passou alguns segundos e João conseguiu sair de seu pavor e foi até a mulher, demorou a encontrá-la, ela estava no fundo do beco, deitada, graciosamente colocada em cima de uns sacos de lixo, como se estivesse em seus aposentos, ele tentou ver o pulso dela, mas não conseguiu, chegara tarde, ela jazia ali e nunca mais levantaria, nunca mais veria a luz do dia. O padre curvou a cabeça chorou e deu a extrema unção à moça, ela estava muito pálida e os lábios arroxeados...
João caiu de joelhos e as mãos juntas na frente do rosto, pedia por Deus, pedia por mais ajuda, achava que não daria conta sozinho... Quando procurou tirá-la do lugar viu que do seu pescoço um filete de sangue ainda fresco escorria por seu busto, no chão, dentro da pequena poça um bilhete... "Pare de me seguir... ou encontrará seu destino e prometo que não será nada agradável."
O padre se recompôs, pegou o corpo esperou anoitecer e secretamente enterrou no cemitério da igreja, ninguém nunca saberia... ao terminar palmas veio de trás e uma risada alta preencheu o lugar.

- Por que me segue se sabe quem sou?

O padre voltou-se para o lado de onde vinha a voz gutural.
Fechou os olhos e começou a rezar.

- Desapareça cria do inferno. In nomi di patris et filis et espiritu sancti...
- Amén... - terminou a criatura ironicamente.
- Por que está entre nós? Por que assola esta terra com teus prazeres mundanos e infernais?... - o padre foi interrompido.
- Calma, uma pergunta de cada vez bondoso padre. - Pare de me seguir, ou encontrará mais presentes meus...

A voz o deixou da mesma forma que apareceu... de repente!

- Aquele ser não é igual aos outros de sua espécie. Não é vulnerável como eu pensei que fosse, então como posso dar um fim nisso antes que todos desta cidade sumam de vez? – o padre pensava roendo as unhas ainda perturbado com todas aquelas coisas que aconteciam e não saber como evitar e isso o deixava mais assustado.

João preferiu descansar, deitar em sua confortável cama e esquecer esse fato por enquanto, mas ao dirigir-se ao seu quarto ouviu algumas vozes como costumava ouvir, eram vozes agradáveis como se os anjos estivessem falando algo com ele há muito tempo e que ele nunca soube o que realmente significava. Tirou os seus sapatos e meias, pegou roupas limpas e tomou um bom banho gelado, as vozes haviam sumido. Depois recolheu-se para o tão desejoso descanso, olhou para cima e viu uma cruz dourada no teto. Sem entender ele visualizou aquilo durante um tempo, mas logo o objeto sumira repentinamente. Achou estranho e finalmente resolveu dormir.

- Olá padre! Fico feliz em vê-lo novamente. – o sujeito abriu um largo sorriso debochado. -Você deveria ter lembrado sobre o que te falei ontem! – o sujeito foi se transformando em uma espécie de monstro com dentes afiados e a sua pele extremamente pálida e pegou o pescoço dele com muita facilidade e o levantou e assim foi esmagando, esmagando até explodir os seus miolos e quando finalmente deu um fim ao padre...

João acordou na mesma hora respirando rapidamente, ofegante e com o seu coração disparado, pensou que havia morrido. Quando olhou para o relógio despertador eram apenas sete horas da manhã, já havia amanhecido.

- Que... Que pesadelo horrível! – ele balbuciou.

Enquanto se arrumava para sair dali alguém batia no imenso portão lá de fora, ele ficara pensando paralisado que fosse a criatura, quase deixou a escova de dente cair de suas mãos enquanto escovava, mas se lembrou que era dia e o individuo só aparece à noite. Gargarejou e cuspiu, fez isso umas três vezes e depois gritou que já estava indo e então caminhou rapidamente com as chaves na mão e abriu o portão.

- Olá padre, como vai? – era o seu amigo policial.
- Ah é o senhor. Desculpe está tudo bem por aqui. – suspirou mais aliviado.
- Sabe... Quando nós conversamos outro dia sobre uma mulher que sumiu? Pois é outra desapareceu e eu pensei que você soubesse de alguma coisa.
- Sinto muito policial, mas eu não fiquei sabendo de nada. Sou apenas um padre.
- É, e o único no local. Por que está aqui? – o policial indagou.
- Esse sempre foi o meu lar. – João respondeu com clareza.
- Tudo bem. Qualquer coisa entre em contato. – Terminou o policial.
- Obrigado Raphael pela gentileza.


O padre se recolheu, terminou seus afazeres e abriu as portas... como de costume a missa teria que começar, mas a igreja continuava vazia, o padre calado olhava o Cristo crucificado, ainda com fé pedindo por auxílio, nem que fosse seu último ato ele livraria aquele local do demônio... ficou mais alguns minutos em silêncio quando ouviu alguém se aproximar, sem olhar para trás caminhou até o altar e abrindo a bíblia olhou para a frente... estagnou.

- Ha ha ha... vim ver seu público e seu show de perto, mas parece que não possui mais platéia... - falou o estranho sorrindo com seus dentes pontiagudos a mostra.
- Não pensei que... - o padre balbuciou algumas palavras espantado...
- Nunca pensou que eu viria até você... nunca pensou em me ver à luz do dia... nunca pensou mais o quê Senhor padre?
- o vampiro terminou a frase do padre, que continuava incrédulo.
- Vou mandá-lo de volta ao inferno, já que não pode mais ter redenção.
- Sério? Mas com que certeza me diz isso? Na certeza de que toda criatura pura será levada ao paraíso se for fiel? Eu fui fiel e olha o que eu ganhei... nada mais justo roubar-lhe um pouco do rebanho... Padre... não tem como me levar de volta ao inferno, nunca fui lá. Mas vivo em um aqui, com você!

O padre franziu a testa... não entendia o que ele havia falado... como ele tinha sido fiel? sendo um monstro!!!

- Pois é padre... vejo tanta dedicação da sua parte... tanto amor... já fui assim, como você... já fui um padre há muito tempo! Posso te dizer uma coisa? Não vale a pena!

João via os olhos da criatura faiscando, não sabia que ele viria de novo à sua procura.

- Um deslize e fui amaldiçoado pelo Pai... Agora ando por suas esquinas e tenho que me alimentar...

João pensativo mostrou-se interessado e ao mesmo tempo pensava em como sair daquele lugar... ou em como enfrentá-lo.

De repente a criatura saltou do banco onde estava e avançou em cima do padre com a boca arreganhada salivando, João sentiu seu hálito fétido banhando-o... sentiu nojo... O vampiro o segurou pelos braços e já ia mordê-lo quando reparou que João estava de olhos fechados sussurrando...

- Isso padre, reze... reze por sua alma... para o lugar onde vai, você vai precisar! - falou o vampiro inquieto.

Ao mesmo tempo em que segurava o padre, sentiu como se suas entranhas se contorcessem... estranho, pois ele há muito não sentia nada mais em seu corpo morto... sentiu sua garganta inchar e sua cabeça parecer uma bomba, mas continuou em cima do padre... quando quase não agüentando escutou o padre falar.

- Não rezo por mim... nem pra salvar minha vida... isso eu a daria se soubesse que com isso te salvaria. Rezo por ti... sei que não possui mais alma, mas rezo por ti, para que descanse e pare de fazer maldades, rezo a Deus para que te ajude, mesmo você sendo uma criatura, um vampiro... rezo para que tudo acabe!

Em agonia Alek mordeu o padre que se entregou aos caninos da besta e continuou com sua oração... Alek não aguentou mais e soltou o padre João que caiu de lado, inerte... gritou se segurando aos bancos e fumaçando... com raiva esbravejou para o altar... a fumaça aumentava e o vampiro gritava ainda mais... até que os raios solares invadiram a igreja estourando os vitrais e queimando o vampiro agora com toda a sua potência, Alek ainda olhava para o Cristo no altar quando se desfazia, logo depois somente suas cinzas estavam por todo o local.

terça-feira, 4 de maio de 2010

6º LUGAR – A FACE DO MAL (REGINA CASTRO)

Segundo concurso que participei agora do site, Masmorra do terror, organizado pelo Lino França Jr.

A FACE DO MAL

Noite chuvosa, andei o quanto pude, mas ficou impossível de continuar, parei debaixo de uma árvore, a rua deserta e um casarão bem na minha frente, o lugar enchendo de água e comecei a não ter outra opção a não ser esperar que passasse... Aquele casarão me deu calafrios, não sei se por causa da chuva ou pelo medo comecei a tremer, as janelas daquela casa eram assustadoras, parecia que surgiria a qualquer momento aqueles monstros de filmes de terror, fiquei vagando os olhos pelas janelas uma a uma quando de repente meu olhar parou na última, lá no topo da casa...

Aquela presença, uma sombra parada que parecia fitar-me, arrepiei ao toque daquele olhar, senti como se garras estivessem arranhando minha pele, rasgando, a dor era algo suportável e não conseguia tirar os olhos dele... Ele estava ao longe, mas ao mesmo tempo parecia estar ao meu lado, sentia seu hálito quente e fétido, a presença do mal que ele representava era palpável, senti-me perdida, angustiada.

Percebi que aos poucos ele mudava de posição e de repente senti uma leve pressão em minha cabeça, meu equilíbrio comprometido, aquele sorriso que já me levava ao início da loucura, a pressão no pescoço, ardência e algo escorreu entre meus seios... Pisquei os olhos e vi-me dentro da casa, olhando-me agora no reflexo da janela embaçada, os pingos grossos desciam feito cascata pelo vidro e minha vida se esvaindo igual à chuva que descia pela calçada.


Regina Castro

22º lugar: Gostosuras ou travessuras? (Regina Castro)

Primeiro concurso que participei de mini contos feito pelo site, Estronho e esquésito, organizado por M.D.Amado.

Gostosuras ou travessuras?

Era noite de halloween, bruxinhas e fantasminhas perguntando a todos, “gostosuras ou travessuras?” E os sorrisos embaixo dos lençóis preenchiam a noite em que todos brincavam com o sobrenatural. O cheiro do doce impregnava o local, a rua cheia estava mais alegre que todas as outras noites...
Numa das portas o casal não atendeu, as crianças bateram insistentemente, mas nada e tudo que veio lá de dentro foi um palavrão gigantesco... No outro dia, a ambulância saiu daquela casa com duas macas cobertas, o sangue espalhado pelo lençol branco... Os policiais estavam estarrecidos, não sabiam como alguém podia morrer comendo tanto doce e ainda se estripar para conseguir pegar os doces já comidos, mas foi o que aconteceu... Os legistas encontraram o casal com a barriga aberta e eles ainda tinham conseguido tentar comer o que já haviam engolido... Rastros de sangue e doces sumiam pra debaixo da cama.
No outro lado da rua, a garotinha olhava sinistramente, a bruxinha deu um sorriso e saiu com sua sacola de doces, lambendo nos dedos o mel vermelho que escorria do pirulito.

Regina Castro

sábado, 27 de fevereiro de 2010

LIBERTAÇÃO

Jhonny ficou naquela biblioteca por bastante tempo... leu tudo que pôde, pensou bastante também, tinha muito o que aprender em história, mas ainda estava no comecinho da faculdade, um novato... tinha sede de sabedoria e isso o impulsionava mais e mais.
Afundado naqueles livros grossos e empoeirados, ele tinha pouco tempo para o primeiro exame, muito pouco tempo para aprender o necessário... tinha entrado na biblioteca pela manhã e perdeu a noção do tempo, por vezes retornando ao passado quando a leitura exigia tal esforço, e ele ia à fundo... tinha ótima imaginação!
Já era noite, perto de fechar e as únicas luzes que iluminavam o local eram dos pequenos abajours amarelados salpicados por cima das mesas ao longo do recinto. A moça veio falar-lhe pela terceira vez, queria fechar... mas Jhonny pediu ainda por quinze minutos, estava folheando o último livro, um livro estranho que ele não lembrava ter pego, já ia perdendo o interesse quando encontrou um bilhete dentro dele... na frente tinha... "A quem possa interessar", ele terminou de ler essa frase sendo interrompido novamente pela bibliotecária.

- Senhor, tenho que fechar! - falou a moça já cansada do dia exaustivo.
- Tu... tudo bem... já estou saindo... - respondeu sem dar atenção.
- Se quiser, leve o livro, é só deixar o número da identidade, o telefone e assinar... te dou dois dias para estudá-lo.
- Bom... muito bom! Aceito sim. Deixa eu arrumar essa bagunça me desculpe. - terminou já tentando juntar o amontoado de livros que tinha pego.
- Não precisa senhor, pode deixar... amanhã eu arrumo. Venha comigo, traga o livro por favor!
- Ok... - Jhonny acompanhou-a com o livro e o sobretudo no ombro juntamente com a bolsa... antes deu uma última olhada no bilhete e colocou-o no bolso da calça... seguiu a moça até o balcão.

Enquanto assinava o livro de empréstimos era analisado cuidadosamente por Cris, terminou e pegou o livro colocando-o na bolsa, vestiu o sobretudo, deu um sorriso largo para a garota e saiu... ela foi logo atrás fechando a biblioteca e seguiram caminhos opostos.
A noite estava misteriosamente esquisita, mais fria do que o normal e em todo trajeto até o metrô ele tinha a impressão de estar sendo seguido, olhou para trás inúmeras vezes e seguiu a passos largos.
Chegou às escadarias do metrô e desceu-as quase num pulo, pagou o bilhete... por sorte estava chegando um naquela hora, entrou na última porta e sentiu-se sozinho novamente... a sensação era de que alguém o seguia e que ao passar pela porta o que quer que fosse, teria ficado do lado de fora, sentiu-se seguro ... queria distância do que quer que fosse, não sabia as reais intenções do perseguidor... agora, sozinho, sentado, colocou a mão em cima da bolsa, como se estivesse protegendo o conteúdo que carregava.
A viagem pareceu longa demais e Jhonny estava quase se entregando ao cansaço, bateu a cabeça no vidro algumas vezes, mas no último cochilo ouviu nitidamente quando alguém gritou chamando-lhe a atenção, acordou atordoado pela potência daquela voz feminina... instintivamente olhou para o lado e viu quando alguém olhava demasiadamente e sem embaraço para a bolsa dele, Jhonny encarou o estranho, isso fez o homem parar de olhar e ele seguiu a viagem agora totalmente desperto, não queria ouvir aquela voz novamente, ficou com os tímpanos doendo de tão alto que foi o grito.
Finalmente chegou em seu destino, saiu da estação de metrô jurando para si mesmo que da próxima vez sairia em seu carro, era muito mais cômodo.
Andou ainda uns dez minutos pelo quarteirão, chegou em seu prédio e subiu para o apartamento, sexto andar... entrou, tirou a roupa e refrescou-se, caiu na cama logo em seguida dormindo profundamente... mas não antes de guardar o livro num cantinho escondido do quarto.
Depois de um longo sono recheado de sonhos reveladores, ele pegou o livro e o bilhete, colocou ambos em cima da escrivaninha e começou a estudar cada palavra ali contida... "A quem possa interessar"... Do céu descerá feito um raio, virá de todas as partes e de lugar nenhum, sendo o mais poderoso dentre os seres, seu objetivo será somente um. ass. "P"
O que será que quer dizer esse bilhete... pensava intrigado... A confusão nos sentidos só aumentava a insegurança, leu trechos do livro, mas nada referente ao bilhete, folheou-o aleatoriamente e só via invocações, não estava entendendo nada, sem querer deixou o livro cair e quando se abaixou para pegar, estava na página 66 no capítulo 6, no qual se lia... " As trevas estão em toda parte e quem ousar buscá-la terá a seiva sugada por caninos afiados e sua carne dilacerada, por garras sedentas e assassinas... teu corpo morrerá, mas tua alma escravizada estará!"

- O que será que quer dizer isso? - pensava roçando o lápis na boca... - Eu vou descobrir!

Como o trecho falava em trevas, Jhonny logo pensou na noite, e como encontrou o livro por acaso, de repente saindo descobriria mais alguma coisa em algum lugar da cidade, a mínima idéia de que pudesse estar enlouquecendo nem chegou a passar na mente, curioso e ansioso por mais, não pensou duas vezes, vestiu-se e saiu em seu carro em parte, pra arejar a cabeça.
Rodou pelas avenidas, algumas desertas, outras com algum movimento... uma coisa era visível, as prostitutas nas esquinas e becos... ele não imaginou que fossem tantas. De repente no meio de todas aquelas mulheres, uma em especial chamou-lhe atenção, ela não era igual às outras, era muito bela e diferente... destacava-se das demais.
Quando o carro passou os olhares de ambos se encontraram e o brilho púrpura do olho da mulher fez com que o comando fosse passado mentalmente. Ele parou o carro de súbito, a mulher chegou perto e entrou... olhando para ele, soltou algumas palavras numa língua estranha, Jhonny franziu a testa... não entendia nada do que ela dissera e de repente ela começou a falar em sua língua, uma frase apenas, numa voz perturbada, ela repetia... "Ele está em todas as partes... ele está chegando!", ouvindo aquilo Jhonny teve certeza que tinha achado o que procurava.
Após algumas repetições, a garota olhou ternamente para Jhonny e sorriu. Naquele momento pareceu que ela nunca dissera nada... ou pelo menos nada grave... já que tudo aquilo era uma charada para ele.
O rapaz acelerou o carro levando a mulher dali, nem sabia seu nome ainda, mas... nada mais pareceu importar... ela parecia um anjo.
Chegou próximo a uma mansão muito antiga, já estava até condenada, mas ela abriu a porta do carro fazendo Jhonny frear bruscamente, ela desceu e entrou no casarão indo cada vez mais para o alto... Jhonny tentou fazer com que ela não fosse, e se tudo aquilo desabasse? Sem opção teve que seguí-la, ela parecia não ouvir seus pedidos... Jhonny subia pelas escadas com os olhos arregalados, como que procurassem por algo... algo que o ajudasse a decifrar o livro.
À medida que subia, as paredes começaram a mudar assumindo uma característica rústica, muito antiga... dava pra notar inscrições rubras em seus tijolos espaçados... Jhonny olhava e não entendia e muito menos ainda o porque das inscrições brilharem na passagem da garota.
Ele notou seus cabelos longos movimentando-se como se alí dentro tivesse uma forte corrente de ar e as roupas mexiam bruscamente deixando a mulher quase nua. A ventania sinistra deixava em evidência as coxas bem torneadas da estranha que parecia não se importar.
Chegaram numa espécie de câmara, onde tinha um altar, a mulher despiu-se, não se importava com a presença de Jhonny, ficou em frente ao altar como que em transe e de novo começou a falar palavras atropeladas numa língua que o rapaz não compreendia, então veio uma luz e invadiu o lugar.
A mulher gritava palavras estranhas, a luz aumentava a intensidade e Jhonny já tampava os olhos, não estava enxergando nada, só ouvia as palavras e aquilo causava-lhe calafrios, as vezes com gritos outras vezes calmos, até que sentiu quando a luz foi enfraquecendo e aos poucos ele conseguiu olhar... o corpo da mulher ainda brilhava e ao terminar ela caiu desmaiada.
Ela estava diferente, mais ruborizada e até seus cabelos assumiram um tom vermelho muito bonito, Jhonny pegou-a no colo e colocou-a deitada no altar... admirava-a enquanto tentava reanimá-la... após as tentativas do rapaz ela abriu os olhos e sorriu para ele... em seu corpo eram visíveis as tatuagens bem trabalhadas que haviam se formado durante o tempo que a mulher passou em transe... desenhos estranhos.
Jhonny estava curioso, queria saber o que ela tinha dito e porque ela tinha feito aquilo... como as tatuagens apareceram... mas ela não disse uma palavra, só olhou-o por um breve tempo... e lentamente adormeceu.
O rapaz cobriu-a com um manto negro que tinha num dos cantos da câmara e desceu com ela, e como estavam numa casa, pensou em achar um quarto com uma cama confortável por alí mesmo para ela descansar, a chuva caía torrencialmente do lado de fora e ele havia parado o carro um pouco distante do portão, após acomodá-la sentou-se na poltrona e ficou velando o sono da bela mulher.
Ela dormia lindamente, de vez em quando ronrronava feito uma gata, por vezes chorava e falava alto, talvez algum pesadelo... mas ele não compreendia nada, além dela falar em outra língua, na maioria das vezes eram palavras atropeladas.
Até que Jhonny caiu no sono e acordou no outro dia com o cheiro de café da manhã no ar.

- Como conseguiu tudo isso? - perguntou espantado.
- Peguei dinheiro na sua carteira bobinho... se importa? - ela falou docemente.
- Não, claro que não. - respondeu já sentando à mesa.
- O que foi aquilo na outra noite? - olhou-a curioso.
- Aquilo? Aquilo o quê? - seu rosto era de inocência.
- Você não se lembra?
- Lembrar do quê? - ela estava começando a ficar séria.
- Nada deixa pra lá... adorei o tom vermelho dos cabelos.
- ah, tá bom... eu sempre os tive assim querido... o que está acontecendo com você? - terminou achando graça do que ele falara.
- Como? - Jhonny olhou em volta, tudo estava diferente, limpo... parecia realmente um lar.

O rapaz olhou em volta... - como aquilo teria acontecido? A casa estava um horror antes, e... Querido?? Ela me chamou de querido? O que está havendo? - o rapaz levantou-se e abriu a porta.

- Onde vai amor? - a voz veio como uma doce súplica.
- Trabalhar... - respondeu a primeira coisa que lhe veio a mente.
- (risos) Gostei da piada, você nunca trabalhou no domingo, por que começaria agora?
- haa... é... vou para o quarto então, preciso descansar!
- Está bem querido... depois vou também... deixa só eu terminar umas coisinhas por aqui.
- Está bem... "querida"... - falou já subindo as escadas.

A medida que subia via fotos deles dois e uma família, seu casamento... mas não viu filhos...
Entrou no quarto... tudo lindo e arrumado. Deitou-se sem demora, pegou no sono pedindo pra que voltasse à casa dele, às coisas dele... e durante o sono teve muitos pesadelos, os mais horríveis possíveis... sonhou com a sua então esposa o matando com um picador de gelo... e o rasgando aos poucos com um olhar tétrico... acordou assustado e viu a mulher perto dele, fitando-o.
Ela veio em cima dele beijando-o, tirando a roupa e revelando a lingerie negra que destacava-se em sua pele alva... mas o sonho de Jhonny veio mais forte ne mente dele e ele saiu da cama desculpando-se da mulher, que fez uma cara de raiva... foi enfim encarar uma ducha fria.
Olhou-se no espelho e socou o próprio rosto... se beliscou até tirar sangue... queria acordar daquele pesadelo... daquela vida que não era a dele, mas não adiantou... a mulher brava continuou na cama à sua espera, mas ele não voltou, em vez disso desceu e foi até a cozinha pegou uma cerveja e ficou pensando.
Enquanto balançava a cerveja entre os dedos, ficou tentando refazer mentalmente todo o trajeto desde que saíra de casa e fechou os olhos, em sua mente chegou até onde encontrou a mulher naquela rua, concentrou-se mais e se lembrou de quando ela falou... - foi acordado de seus pensamentos pela doce voz, no susto deixou a garrafa se espatifar no chão respingando de cerveja o armário... seus olhos não paravam de fitá-la e ela retribuía num encantador sorriso.

- Nossa, o que eu fiz... deixa q eu limpo. - falou tentando sair do transe que a mulher lhe causara.
- Não precisa, pode deixar. - a mulher carinhosamente pegou o pano da mão dele.

Enquanto ela limpava o chão, Jhonny tentava pensar, sabia que aquilo não era normal, queria saber onde estava o livro e principalmente queria saber como sair do pesadelo que a mulher o tinha instalado... e começou...

- Quem é você de verdade? Confesse!! - falou o rapaz tomando distancia dela.
- Ué, quem eu poderia ser Jhonny, sua esposa Pauline, é claro! - respondeu sem encará-lo.
- Vamos acabar com essa palhaçada... o que quer de mim monstro! - continuou tentando conseguir algo.
- Você não está em seu juízo normal... Jhonny querido, sou eu, sua mulher, namoramos desde o colégio.

Jhonny caminhou devagar para as gavetas do armário, a mulher encarava-o séria, prestando atenção em cada movimento, ele por sua vez procurou pela gaveta certa... achou o que procurava, uma faca grande de cortar carne. Fitando-a por um longo tempo retomou a conversa.

- Você não vai me dizer então vou descobrir sozinho... - terminou apontando a faca para o próprio peito.
- Não! Não faça isso... estará fazendo o que ele quer.
- Ele quem? Desembucha logo. - falou irritado.
- Gael... um demônio extremamente poderoso e que está criando toda essa ilusão.
- Porque eu?
- Porque você tem o livro... ele quer o livro, e eu quero que ele não encontre. Não me importa com quem esteja, desde que não seja com ele... - finalmente a mulher sorriu, agora de forma diferente... ela tinha presas.
- O que você é? Também um demônio? E estão disputando minha alma? - ele ainda tinha a faca apontada para o peito.
- Ha ha ha... disputando você? Você pode até ser docinho... mas meu objetivo é proteger o portador do livro! Estou aqui a trabalho meu querido. - ela agora já tinha assumido uma entonação de voz diferente... falava sensual, porém com picos de crueldade, seu olhar antes inocente... agora despejava luxúria e seus movimentos pareciam os de uma felina.
- Mas você também é um demônio... não vejo diferença na sua classe.
- A diferença é... você ainda está vivo... embora não totalmente intocado. - terminando de falar ela passou os dedos nos lábios com jeito sapeca.

Jhonny não estava acreditando no que ouvira, além de estar preso num sonho, ainda servia de alimento e nem se lembrava disso... pensou no livro, de repente se o encontrasse conseguiria fazer tudo voltar ao normal, mas estava muito, muito longe. Não sabia o que fazer, nem o que pensar... queria tentar pelo menos sair dali, mas a mulher estava entre ele e a liberdade, não conseguiria passar por ela. A única saída que se mostrou foi ou desistir, ou atacar... partiu pra cima da mulher com a faca levantada e com ira nos olhos, não estava mais raciocinando, estava agindo por impulso.
Rapidamente Pauline segurou Jhonny pelo pulso e apertou um pouco, ele deixou a faca cair, gemendo de dor, ela era muito forte, ela envolveu-o pelo pescoço e roçou seus lábios carnudos nos dele... Jhonny sentiu uma pequena vertigem... por um momento a cozinha pareceu rodar... ela sem se abalar com as tentativas dele de escapar, continuou... roçou os lábios pela sua face e chegou em seu pescoço... beijou-o e lentamente chegou em seu ouvido.

- Tudo isso é uma brincadeirinha dele... se eu quiser posso te libertar... pena que não vou mais poder brincar com você, estava gostando tanto... - a mulher sussurrava ora dando pequenos beijos na orelha, ora passando a língua em seu lóbulo... - Sabe, nunca tive um brinquedo tão... apetitoso e interessante, mas se eu ficar aqui com você, assim que ele souber onde está o livro... ele irá buscar, não posso correr esse risco! Vou sim te libertar, mas ficará por sua própria conta... se lembre do bilhete no livro... alguém mais poderoso que eu virá, só não sei o momento, para te ajudar, nesta hora espero não estar perto... agora antes de você ir...

Ela mal terminou de falar, cravou os dentes bem fundo na jugular do rapaz, que quase gritou de dor, Jhonny se agarrou à ela com tamanha força tentando abreviar a dor, mas era algo muito potente, parecia que ela ía arrancar a cabeça dele, tamanha foi a força da mordida... a vampira sugou o quanto pôde e o quanto ela sabia que ele poderia aguentar... era a última refeição nele e queria aproveitar, mas sem matá-lo, ele continuaria sendo o portador do livro... ela terminou lambendo o ferimento e antes de soltá-lo deu-lhe boa noite, sumindo logo em seguida.
Ao acordar, Jhonny estava caído no meio do salão do casarão condenado, os ratos passavam por cima dele, foi acordando e enxotando os bichos que transitavam, sentiu dor de cabeça, a base da nuca doía e o pescoço... parecia que tinha levado uma surra. Lembrou-se de tudo, estava fraco, queria ir para casa... levantou-se cambaleando e saiu na chuva, tropeçou algumas vezes no trajeto até o carro, chegando perto da porta, pegou as chaves do bolso e abriu-a nervoso, entrou, sentou e respirou fundo sujando o carro de lama. Não sabia o que pensar... estava no meio de uma guerra que ele talvez não pudesse lutar, afinal era somente um simples humano, logo pensou no padre Kall e como ele sempre fora atencioso oferencendo ajuda sempre que precisasse, ainda não havia precisado, mas era chegada a hora e acabou decidindo por levar o livro para a igreja... girou a chave na ignição e respingou lama pra todo lado, saindo do acostamento e pegando a principal rapidamente, iria de imediato no padre, seu amigo, não queria demorar nem mais um minuto... enquanto dirigia até em casa, sentiu de novo a estranha sensação, alguém o seguia e agora a presença era ainda mais forte, tão forte que ele pensou ter sentido um cheiro estranho... seu corpo tremeu, mas continuou com seu plano.
Chegando mal parou o carro já pulou pra fora, subiu feito um louco até seu apartamento, foi até onde estava o livro e o retirou do lugar onde havia colocado...

- Ah! Quer dizer que estava aí, seu bastardo! - falou uma voz gutural vinda do canto do quarto.
- Q... qu... quem é você? - Jhonny até ja sabia a resposta, mas precisava ganhar tempo.
- Eu sou seu pior pesadelo, humano tolo... ha ha ha ha... - o vampiro soltou uma gargalhada que deixou-o quase surdo.

Jhonny correu pra fora do quarto enquanto o vampiro ia andando atrás dele, alcançou o corredor e desceu as escadas desesperado... a todo momento ouvia a voz da criatura falando maliciosamente de como iria matá-lo, e que todo aquele medo em seu sangue estava-o deixando excitado... o rapaz continuou correndo e alcançou a porta de saída, entrou no carro e saiu em disparada, bateu numas latas de lixo e quase terminou no poste próximo... seguiu viagem até a igreja.
O vampiro não o tinha seguido, mas Jhonny sentia aquele cheiro que impregnava suas narinas deixando um gosto ruim na boca... não demorou a chegar na igreja, no meio do caminho ligou para o padre Kall, este já o aguardava... parou o carro numa manobra arriscada perto dos degraus e quando ia subir a escadaria, deparou-se com o vampiro à sua frente... parou de súbito e ficou encarando a criatura que sorria cruelmente, ele não sabia o que fazer, seu corpo começou a tremer, segurou com mais força o livro e o suor já descia pelas têmporas, um suor gelado evidenciando todo seu pavor.

- Venha meu filho! - gritou o padre.

Jhonny tinha que passar pela criatura, mas não sabia como, de repente do nada apareceu Pauline, que segurou por trás o seu senhor.


- Mulher tôla... vai mesmo morrer por um reles mortal? - indagou o vampiro furioso.
- Adivinha!! - a vampira sorria. - Vai Jhonny, passa rápido, não posso segurar muito tempo! - gritou a vampira para o rapaz.

Jhonny passou pelos dois correndo e quando chegou perto do padre Kall, a vampira tinha perdido a batalha e agora estava no chão com o ser das trevas prendendo-a com o pé pelo pescoço, apertando, ela lutava, mas não conseguia se desvencilhar... quando olhou para o lado, para onde Jhonny havia ido avistou o padre Kall quase pegando o livro das mãos de Jhonny...

- NÃÃÃÃÃOOOOO!!!!!! - gritou Pauline desesperada.

Jhonny parou de súbito e olhou para a vampira, não estava entendendo mais nada...

- Não entregue... ele é um carniçal... é um maldito carniçal!!
- O quê?

Jhonny estava com os olhos arregalados, olhava dos vampiros para o padre... padre Kall insistiu e pediu novamente o livro, mas o rapaz não entregou, havia entendido o que a mulher tinha falado.

- Sua vampira burra!! Maldita!!! - o vampiro pressionou ainda mais o pescoço de Pauline.
- J... Jho... Jhonny, eles querem libertar... arght... libertar Lúc... Lúcifer!!!!!!!!!!!!!

Aquela revelação caiu feito uma bomba nos ouvidos do rapaz, desesperançoso, ele caiu de joelhos segurando o livro à sua frente e logo lágrimas involuntárias deceram-lhe pela face... ele olhava o livro enquanto os pingos grossos molhavam a capa de couro envelhecida.
O vampiro por sua vez, num só golpe separou a cabeça de Pauline do restante do corpo... a mulher ficou alí na frente da igreja, o sangue converteu-se do vermelho para o negro em segundos e foi escorrendo pelos degraus.
O ser das trevas olhou para Jhonny e para o padre, seu escravo, os olhos do vampiro assumiram uma cor avermelhada jamais vista, ele estava agora perto, após tantos séculos do que mais queria, assim ele poderia trazer o inferno para a terra... Lúcifer a quem ele serve e suas legiões, poderiam banquetear-se da raça humana até não sobrar nada além de trevas.
Padre Kall por sua vez investiu contra Jhonny que com o livro em punho levantou-se golpeando o padre de baixo para cima fazendo-o cair para trás, batendo a cabeça nos degraus perto da porta e morrendo logo em seguida... Jhonny espantou-se com a força que empregou no golpe... a força que naquele momento descobriu ter.
Olhando para o lado o rapaz viu o vampiro com suas presas e garras afiadas e brilhantes vindo em sua direção, Jhonny olhava em pânico aquele ser monstruoso que se aproximava sorrindo friamente, seus olhos parecendo dois faróis de sangue, de sua garganta vinha um som tenebroso que incomodou Jhonny ao extremo... o rapaz falava para si mesmo para sair, para andar, sair do lugar, tentar até a última chance escapar da morte certa, até que de súbito disparou pra dentro da igreja, quem sabe alí o demônio não entraria, mas estava enganado e logo atrás de si viu a besta que salivava como se caçasse sua presa, Jhonny correu até o meio da igreja e de repente os bancos começaram a ser arremessados para frente fazendo-o retardar sua fuga.
Com todo custo Jhonny chegou ao altar e procurou por algo... ficou tateando o chão, as paredes, deveria ter alguma coisa alí que o ajudasse, até que seu pé derrapou perto da parede e entrou num buraco... olhou mais de perto, era do tamanho exato do livro, o vampiro vendo que perderia arriscou usar de sua rapidez, mesmo tendo que gastar mais sangue para isso, sem pensar já estava na frente do rapaz, não poderia perder o livro de novo... rapidamente, antes que Jhonny se desse conta, o monstro já estava segurando sua garganta, com a boca escancarada aproximando do pescoço dele enquanto a outra mão tentava segurar o livro, mas Jhonny o soltou e o livro encaixou-se perfeitamente no buraco, as presas do vampiro perfuravam com ódio a carne do rapaz em busca não só de sangue, mas também de sua vida... a criatura colocou tamanha força na mordida que Jhonny gritou desesperado, mas totalmente imóvel, não conseguia mover um dedo sequer durante o abraço da morte.
Gotas do sangue de Jhonny caíram em cima do livro e este brilhou com tamanha intensidade que terminou cegando a criatura fazendo-o soltar o rapaz... o brilho assumiu todo aquele lugar, não dava para enxergar nada, dos vitrais da igreja escapavam raios de luz avermelhada que foi enfraquecendo e aos poucos tornando-se tão claro quanto o próprio dia.
Quando o clarão passou, o vampiro olhou para o chão e viu o rapaz desacordado, mas atrás de Jhonny havia um brilho que foi tomando forma e apavorou o vampiro enfurecendo-o ainda mais.

- VOCÊ!! VOCÊ AQUI????? - vociferou o monstro.
- Tsc, tsc, tsc... mas você não aprende demônio. - falou a voz calmamente.

O vampiro demonstrando todo o pavor arreganhou os dentes, estava tomado por um ódio sem tamanho... fez menção de atacar como se fosse uma fera acuada.

- O QUE QUER MIGUEL??? NÃO BASTA TER ME IMPEDIDO DA ÚLTIMA VEZ? AINDA TEM QUE VIR AQUI TAMBÉM? - o vampiro continuou em posição de ataque... mas não seria tão burro.
- Você sabe Gael, que sempre apareço... por que insiste? - a voz do anjo era de uma doçura sem igual.

O anjo por sua vez deu um passo empunhando sua enorme espada de fogo, a chama forte crepitava em suas mãos... o vampiro em posição de ataque/defesa, foi dando passos para trás, tentou calcular fugir dalí, mas não teria tempo e continuou encarando o ser divino.
Miguel continuou andando, a espada em punho amedrontava o vampiro, ele não tinha escapatória... olhando de relance para a porta o vampiro tentou uma investida, mas o anjo com um bater de asas fechou-a num rompante.
Jhonny no altar parecia morto, continuava deitado do mesmo jeito que o vampiro havia deixado... nem se movera.
O vampiro de novo voltou os olhos rubros para o anjo e tentava ameaçá-lo com suas presas pontiagudas... grunhia ferozmente mas, Miguel continuou sereno, nada daquilo o abalava.
Quando o vampiro finalmente viu que não tinha escolha, tentou investir contra Miguel com seu ataque mais poderoso, mas Miguel nem teve o esforço para repelir o ataque e dividir o vampiro ao meio, que sequer sentiu a presença do golpe devastador... Explodiu logo em seguida sem deixar rastros.
Miguel encheu o lugar com seu aroma adocicado, chegou perto de Jhonny e tocou-lhe a fronte... depois sumindo numa luz brilhante.
No outro dia Jhonny acordou bem, não sentia dores, passou a mão no pescoço... apenas um arranhão... cicatriz que não lembrava como tinha adquirido e em cima de sua escrivaninha, o grande livro com agora outro bilhete... "Obrigado, peço-lhe que continue o bom trabalho... ass. Miguel"
Jhonny pegou o livro, seu sangue continuava nele parecendo uma pintura, o rapaz guardou-o no mesmo local de antes... agora lembrava-se de tudo... da luta... da traição do maldito padre... lembrava-se de Pauline.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Erro Fatal

No jazigo, o silêncio macabro escondia fortes indícios de que mais alguém repousava naquela cova... do lado de fora... a chuva torrencial, as trovoadas, fizeram com que o ocupante daquele lugar acordasse cedo demais, seu sono leve fez com que o barulho lá de fora zumbisse em seu ouvido com límpida nitidez... os olhos antes cerrados, agora faiscavam e Raimond acordou de seu curto sono para uma nova refeição... refeição essa que ele queria que fosse bem cheia de emoções, a começar pelo medo, humm, ingrediente indispensável... logo depois viria a entrega com o desejo... e por final a lascívia terminando a mordida num doce sabor de luxúria.
Seu leito nem havia esfriado e ele forçosamente já estava de pé, demorou algum tempo com a última vítima, quase apaixonou-se e antes que isso acontecesse, na última mordida, esvaziou por completo a garota e conservou-a ao seu lado na cova para se lembrar do quanto era bela, o que não daria para admirar por muito tempo. Antes de se afastar, deu uma olhada na mulher e mecanicamente vestiu seu sobretudo, apesar de tudo, ainda tinha indícios de que fora linda... a morta ainda parecia estar com um ar doce e as maçãs do rosto ainda pareciam rosadas... sua beleza era quase angelical, sem muita cerimônia, Raimond deixou-a e partiu para a noite chuvosa... agora aquele lugar seria somente dela.
Na porta do mausoléu fitou a lua, a chuva grossa não dava trégua, parecia mesmo que o mundo acabaria naquele momento... o vampiro deixou o rosto na direção da lua para sentir a água, em vão, seu corpo não possuía mais nenhum tato, era como uma dormência permanente, o que não o deixava nem mais, nem menos infeliz, pois ao se deixar transformar ele sabia tudo o que enfrentaria na sua pós-vida, só não sabia que enfrentaria sozinho, fora enganado por sua senhora que o mordeu e o transformou como se estivesse fazendo um favor, e agora só a solidão o acompanhava, pois achando necessária, nunca reclamava disso e sentia-a da melhor maneira e com o melhor néctar que a noite lhe trouxesse brindando sempre à sua imortalidade.
Deu um passo e ganhou a calçada, uma das últimas ruas do cemitério, não precisou andar muito e logo avistou algo incomum, ao longe estava uma mulher sentada num túmulo aos prantos, ainda de longe Raimond observou o que ela fazia, chorando muito ela acariciava a foto da lápide, estranhou, ver humanos naquele lugar, tarde da noite e ainda por cima numa noite como aquela, torrencialmente chuvosa, era no mínimo loucura, pelo que notou ela não era do tipo gótica, não via prazer naquilo, ela era diferente, o vampiro notou mesmo muito sentimento naquelas lágrimas, apesar de sentir algo estranho, aproximou-se.
Em silêncio e quando estava a mais ou menos um metro dela, começou a falar:

- O que faz uma jovem a estas horas, neste lugar? - falou Raimond mansamente.
- O quê? - o susto foi tão grande que ela se virou muito rápido e caiu sentada ainda no túmulo, olhando-o com espanto.
- Calma! Não precisa se assustar... - Raimond estendeu a mão para ajudá-la a se levantar.
- Então... o que aconteceu para você estar trancada dentro do cemitério desse jeito? - continuou o vampiro.
- E você? O que faz aqui? - rebateu a mulher.
- Eu? Humm... isso é uma longa história... - completou Raimond com jeito simpático.
- Bom... é que meu namorado... está... bem aqui! Neste túmulo! Depois da trajédia minha vida não foi mais a mesma... não me conformo! - explicou tristemente a garota.
- E o que você quer fazer? - perguntou curioso já com malvadas intenções.
- Eu... quero ir junto com ele... eu quero morrer... - falou abraçando o vampiro.
- Então... seja feita a sua vontade!!

Ao terminar de falar Raimond mordeu-a no pescoço, a mulher não se debateu, pelo contrário, agarrou-se a ele e deixou-o sugar seu sangue, o vampiro estranhou tanta entrega, logo pensou que ela estava mesmo decidida a se entregar nos braços da morte e continuou; De repente Raimond soltou-a meio tonto e viu nas feições da mulher um ar de vitória, sua garganta estranhamente queimava e uma fumaça acinzentada começou a sair de seus olhos e boca... desesperado, Raimond pôs as mãos no pescoço, a agonia crescia gradativamente e seu espanto foi maior quando a mulher tirou a capa evidenciando seu traje de freira, serenamente ela sorria e ainda escutou quando a irmã falou...

- Volte para o lugar de onde veio, cria do demônio... seu grave erro foi seduzir minha pobre irmã, não sei como ela caiu no seu encanto, mas algo dentro dela dizia que era errado e ela me procurou... sei de tudo sobre você, e minha irmã agora descansará em paz, sofra com seu erro... (o vampiro em agonia morria devagar e ela continuou... ), o que te queima é a minha fé... minha grande e pura fé que tenho na santa trindade... eu sei que não serei igual a você, para isso eu teria que beber do teu sangue impuro...
demorei a chegar em você... (nesse momento o vampiro terminou de se desfazer restando somente uma gosma horrivelmente fétida e a freira ainda continuou falando.), sei que minha irmã está morta, cheguei tarde para salvá-la, mas como tantos outros você não fará mal a mais ninguém.


A irmã Clara levantou a cabeça e lágrimas de felicidade rolaram por sua face.


- É mana... após meses do teu sumiço consegui encontrar o maldito e o vi derreter até o final... ele pagou... mas não vou parar agora, não por vingança e sim por justiça.


Antes de ir até o mausoléu de onde o vampiro tinha saído, a freira pegou um frasquinho da bolsa e espirrou no pescoço, as perfurações que o vampiro tinha feito viraram cicatrizes, mais duas pequenas cicatrizes, marcas que ela nunca conseguiria retirar e muito menos esquecer.
Dirigiu-se ao mausoléu e conferiu o corpo dentro da cova, era o de sua irmã, logo imaginou que ele tivesse gostado dela, pois não a matou de imediato, mas como todo mal ainda é cruel, não importa o quanto demorou, sua irmã acabou tendo aquele triste fim... com toda dor, Clara abandonou o cemitério andando como uma simples vítima na madrugada escondendo a recente mordida sob a capa.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Arrependimento

Andando pela madrugada, Leslie ficava atenta a tudo e procurando por algo... continuava a caminhar nas ruas frias de Nova York, comida não queria já havia se alimentado e muito bem, tanto que até desperdiçou o último gole, pensou no desperdí­cio mas enfim já estava saciada, largando os corpos à margem do lago foi andando, queria encontrar algo... algo que de alguma forma a chamava... Seguiu seus instintos, nem o cheiro pútrido dos esgotos a confundia, seus caninos brilhavam, a lua estava grande no céu, para muitos namorados a hora ideal de se amarem, mas para ela era inspiração, e a hora exata de encontrar o alguém que há muito tempo esperava.
Parou em frente a uma boate, as escadas escuras convidaram-na para uma noite agitada, o local estava cheio e tudo alí­ cheirava a bebida e cigarro e... sexo, coisas que há muito tempo não mais incomodavam, desceu e entrou pela portinha de vidro, o lugar pareceu pequeno do lado de fora, mas a surpreendeu por dentro, estava lotado, pessoas se amontoavam no salão, a música forte fazia todos ficarem ouriçados e desatentos, pensou na última refeição que teve ha uns quatro quarteirões atrás, alí­ a comida era abundante e jovial, não que as prostitutas estivessem em más condições, afinal, sangue é sempre sangue.Andou um pouco no meio do povo que pulava e gritava, Leslie achou aquilo muito engraçado, tem horas que a raça humana deixa um pouco a consciência de lado, investigando a mente de alguns ela constatou que o que os mantinham alí­ era a chance de sexo fácil, deprimente até o que alguns pensavam, continuou seguindo e no canto escuro da boate sentiu a presença dele, andou mais alguns passos e ficou de frente a ele, Lucian, fitando-o.

- Ora ora, finalmente o achei. - disse Leslie sorrindo.
- Não sabia que estava me procurando.. . - respondeu Lucian sarcasticamente.
- Porque você sumiu? porque não falou comigo? porque não me procurou?... porque você tem tanto medo? -Ao mesmo tempo que falava, ela puxou a cadeira empurrando a garota que o acompanhava e sentando-se em seguida olhando-o friamente, a garota quis reclamar, mas o olhar de Lucian de reprovação a impediu.
- Vamos Lucian, estou esperando, quero uma explicação. -ordenou a vampira.
- Sua protegida não te faz mais tanta falta? - instigou Lucian.
- Minha protegida... hum, não entendi porque fez aquilo, porque teve que matá-la? seria ciúme?
- Ciúme minha cara? Não confunda ciúme com vingança!
- Gosto do seu tom de voz... - terminou Leslie.

Todos alí­ nem sabiam o que os aguardava, Leslie estava se controlando, mas se não pudesse mais sabia que iria partir pra cima de Lucian e aquele lugar ficaria destruí­do em minutos, de repente era o que ele contava que acontecesse, de alguma forma ele queria que a vampira se revelasse... Leslie por sua vez, ainda gostava de Lucian, seu pupilo, mas que não havia aprendido nada do que ela ensinara, a marca disso tinha sido a pequena Helena, somente sete anos, mas que a sede do vampiro novato não tinha deixado escapar, e à beira da morte Leslie achou a garota e ficou com ela, no iní­cio para talvez expiar o erro de seu filho da noite, e depois por afeição.
A vampira ensinou tudo o que Helena precisava aprender e depois de um tempo juntas seu pupilo havia retornado pedindo perdão e um abrigo, ela mesmo não acreditando em seu arrependimento por haver fugido acolheu-o e num descuido da vampira Lucian despedaçou a garota e depositou-a dentro do próprio caixão de Leslie e fugiu novamente... agora alí­ naquele lugar, toda raiva se aflorava ao pensar na garotinha, pois mesmo sendo uma vampira, ela nunca matava por matar, somente para saciar sua sede e somente do sangue mais vil da raça humana, a escória, prostitutas e bandidos eram seu banquete.

- Porque faz isso... porque quer tanto se mostrar? - continuou secamente a vampira.
- Porque eles tem que saber que são somente gado, refeição e respeitar os verdadeiros predadores.. . eles tem que saber quem estão no topo da cadeia alimentar de verdade. - respondeu Lucian entredentes e raivoso.
- Eu também tive essa rebeldia um dia, e passou, como eu esperei que acontecesse contigo, mas estou vendo que você não tem jeito, não dá pra continuar fechando os olhos pras suas burradas Lucian... pelo caminho eu vi vários de seus erros, humanos vivos, mordidos, sabendo demais sobre nós... não sei o que fariam com essa informação, mas isso é uma coisa que não deve acontecer.
- Será que você encontrou todas as ví­timas "mamãe". - completou ironicamente.
- Bom, se não tiver encontrado também não faz mal, eu te dei o dom da vida eterna, erradamente. .. agora eu sei, mas não te dei o dom de transformar alguém, acha que eu seria descuidada a esse ponto?

O vampiro franziu a testa não sabia disso, agora tinha ficado enfurecido demais, pois Lucian pretendia formar o seu exército particular de mortos-vivos, queria assolar a face da terra com sua maldição, e pensou que estivesse conseguindo. .. por sua vez Leslie notou que havia tocado num ponto vital, e achou graça na cara de ódio que agora seu pupilo lhe mostrava.

- Quer dizer que você queria fazer seus próprios filhos das trevas? - indagou Leslie num tom sarcástico e continuou. - Não Lucian querido, não te dei essa chance sabe porquê? Pra não acontecer contigo o que está agora acontecendo comigo, ter que eliminar um filhote rebelde e sem respeito nenhum para com sua senhora...
- Grrrr... sua vadia! Porq... - O vampiro com raiva falou salivando.
- Tsc, tsc, tsc... tadinho... Os dois ficaram se olhando por algum tempo, sem nada falarem, por dentro Lucian espumava de ódio da vampira e Leslie aguardava somente um momento para decidir o que faria, a boate estava lotada e seriam muitas as testemunhas, ela náo queria entregar sua verdadeira natureza alí­ no meio de tanta gente, achava que os humanos não estavam preparados para tal revelação e nunca estariam na verdade, pois nunca aceitariam a condição de serem somente alimento para seres de sua espécie e com isso viriam mais caçadores e mortes desnecessárias, derramamento de sangue sem precisão, na sua concepção, estava muito bom como estava, eles seres noturnos se escondendo no véu das trevas e os humanos nunca teriam seu conhecimento como até agora estava sendo.
Do balcão a garota que acompanhava Lucian estava indignada por ter sido retirada tão abruptamente de seu lugar, mal sabia que Leslie havia salvo sua vida, e olhando os dois de onde estava ficou torcendo para que a vampira levantasse e fosse embora... Leslie vendo que Lucian não estava se importando com nada, percebeu que ele iria se levantar e começar uma batalha alí­ mesmo no meio de todos e de repente, rápida como um raio segurou sua mão com força impedindo-o de se levantar, sentou-se ao seu lado e segurando-o forte sussurrou...

- Se eu fosse você ficaria quietinho, não teste minha paciência Lucian, tem muita gente aqui mas nada me impede de acabar com você aqui mesmo, e então o que vai ser? Vamos sair?

O vampiro parou de se debater e levantou-se junto com sua senhora, caminhou alguns passos e de repente tudo ficou escuro novamente, a música havia recomeçado, Lucian tentou se soltar, a vampira vendo que não tinha jeito, abraçou-o forte, ele percebeu o que ela faria e tentou chamar atenção, Leslie calou-o com seu beijo, a garota do balcão ficou com tanta raiva que pegou a bolsa e saiu em disparada e deixou-o aproveitando seu momento, pensou ela, e Leslie continuou, enquanto o beijava e o dominava, uma lágrima molhava sua face... dentro dela doí­a ter que fazer aquilo com um pupilo tão querido, beijou-o longamente e quando Lucian já estava com a mente em seu poder ela finalizou o beijo e olhou bem dentro de seus olhos, no fundo deles ela viu algo parecido com um arrependimento finalmente, mas já era tarde, Helena estava morta e nada mudaria isso, ainda abraçado à ele Leslie afastou a gola de sua camisa e chegou com os lábios em seu pescoço gélido, mordeu, seus caninos entraram macios na pele do morto-vivo e doeram em seu coração, ou algo parecido com isso, mas ela continuou e sugou seu sangue até que seu corpo não aguentasse mais e fosse se desfazendo, ao redor ninguém notava, a bebida e o êcxtase eram tantos que passaram despercebidos até o final, quando terminou Leslie confundiu-se na multidão e sumiu, mas com uma certeza, nunca mais faria uma transformação novamente.

Beijos Eternos
Nat Vamp.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Gritos na escuridão

Quando os gritos começaram eles ficaram assustados, uns poucos pedestres pararam, outros seguiram em frente querendo sair logo daquele lugar, vez ou outra um carro quebrava naquela parte da estrada e sem soluções a pessoa tinha que esperar alguém passar por ali, mas naquela hora, William e Linda teriam que esperar, mesmo amedrontados ficaram dentro do carro, um conversível vermelho, receosos olhavam com os olhos arregalados para todos os cantos da estrada, o vento, a chuva fininha que teimava em encharcar aos poucos a rua escura, e a ribanceira bem do lado do carro, de repente um chiado e Linda tenta sair do carro, trêmula, mas William segura em seu braço.
- O que foi, ta maluca? Vai sair nesse lugar escuro e debaixo dessa chuva?-William abraçou-a tão forte que Linda pôde sentir seu coração que estava aos pulos.
- Você não ouviu Will, tem alguém lá fora, está nos espiando, eu sei, eu sinto.
- E mesmo com essa sensação você quer ir lá fora? Acalme-se.
- Acho que seria pior nos pegarem aqui dentro, aqui somos alvos fáceis.
- Vamos esperar só mais um pouquinho, de repente alguém passa por aqui.
- Duvido, já estamos aqui há duas horas e você viu pelo menos um animal? Aqui não tem nada, só o vento e essa chuva que está me dando nos nervos, vamos sair daqui, vamos correr até encontrar alguma residência, vamos procurar um telefone... Por favor!
- Não sei por que ainda te dou ouvidos, vamos então, mas se prepare para qualquer coisa, não sei onde estamos.
- Se não sabemos a culpa não é minha, eu te falei que não gostava de atalhos.
Os dois se entreolharam, nos olhos de William brilhava o arrependimento de não tê-la ouvido, mas agora era tarde, abriram a porta do carro, olharam para todos os lados, ninguém, só eles naquele lugar que mais parecia ter saído de um filme de terror com aquelas árvores secas balançando.
Começaram andando, depois de tão apavorados correndo, depois de alguns minutos avistaram uma casa, luz acesa, aquilo aliviou-os, correram até a casa e chamaram, bateram na porta, até que apareceu uma senhora.
- Boa-noite, nosso carro quebrou lá atrás e precisamos de um telefone, será que a senhora poderia nos ajudar?
A senhora nada falou, sorriu e deu-lhes passagem, ao passarem a porta se fechou e gritos ecoaram da cabana, gritos sufocantes.
- Sentem-se e fiquem à vontade, não gritem ninguém irá escutá-los.
- Temos que sair daqui Will, temos que sair daqui... - repetia Linda atordoada.
- Pensei que vocês não iriam sair daquele carro tão cedo, mas felizmente tenho o tempo que vocês não tem para esperá-los... A eternidade.
Pela casa tinha alguns objetos antigos e um caixão, também mais um casal estava num dos cantos da casa e não falavam nada, só fitavam o vazio, os rostos retorcidos apavoraram Linda e William que olhando para a senhora ficaram mudos ao vê-la tornando-se jovem, ali não existia mais uma velhinha com rostinho bondoso e sim uma jovem com um ar estranhamente cruel e sentada esperou que parassem de gritar.
- Bela estrada que me traz refeições cada vez mais saborosas, belo atalho que atrai cada vez mais desavisados. .. Sabia que tinha escolhido bem esse lugar...
A moça agora olhava para Linda e passando a língua nos lábios estendeu a mão e chamou-a, Linda que antes amedrontada, agora obedecia o comando da vampira e levantou-se andando em sua direção, nem os apelos de seu namorado a acordaram daquele transe, e a vampira sem cerimônia nenhuma banqueteou-se de seu sangue na presença de William que desesperado gritava para que soltasse sua amada... Após satisfazer-se a vampira jogou Linda de lado como uma carcaça, e sem contentar-se fez o mesmo com William, com seu chamado, o rapaz não teve como não obedecer e também foi ao encontro de seu algoz, mas para sua surpresa a vampira sussurrou em seu ouvido.
- Você... não quero para refeição, quero que aceite ficar ao meu lado, só não prometo a eternidade, mas prometo que será uma vida que você nunca iria ter se tivesse ao lado da sua namoradinha.
William não tinha escolha, baixou a cabeça e daquele dia em diante tornou-se escravo da vampira, obedecendo-a e como havia prometido, ele estava tendo uma vida como nenhuma outra, mas sempre se lembrava do casal jogado no canto naquela noite e sabia que um dia sua vez chegaria, só lhe restava aproveitar o que sua teimosia havia lhe presenteado.

Nat Vamp.
Beijos Eternos.